Nem sei direito como começar este post. Foi um longo tempo de espera... Até que ontem chegou o grande dia. Vocês podem me achar louca, mas quando se sente o que sinto não tem muito o que explicar. É um amor que não sei direito de onde vem, um facínio sem sentido aparente, uma espécie de paixão. Sei lá! Parece até que estou falando de uma pessoa, não é? Só que não estou.
Minha paixão, o dono de todo esse amor é o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Uma casa tão especial quanto bela. Um templo, um patrimônio da nossa cidade e do nosso país. Grandioso, imponente e ao mesmo tempo delicado.
Lembro-me claramente da primeira vez que pus meus pés lá dentro. Sempre tive grande admiração por aquele lugar, mas assim como muitos cariocas (infelizmente), junto com a admiração havia um distanciamento. Achava que aquele lugar não era para mim. Entrar no Municipal era um sonho que eu pretendia realizar algum dia, num tempo que parecia muito distante. Acontece que um dia esse momento chegou.
Eu sabia que era aniversário do Theatro e que havia uma programação especial para esta data. Estava na Cinelândia naquele dia, não fui lá só para isso, mas já estava em meus planos chegar lá perto, tentar saber de alguma coisa. Conforme ia me aproximando o som crescia de volume e eu era envolvida pelo que ouvia. Era a Banda dos Fuzileiros Navais que tocava no foyer, abrindo o dia de comemorações. Qual não foi minha surpresa quando a então presidente convidou o público a ganhar o interior do Theatro e aproveitar o espetáculo que se iniciaria em seguida. "Como assim? É isso mesmo? Ela disse para entrarmos, assim, simplesmente entrarmos?" Quase não acreditei. Não sabia bem que caminho tomar e resolvi subir as escadas que estavam a minha frente. Meu coração começou a bater mais forte a cada degrau. Quando finalmente me vi no interior do Balcão Nobre, de frente para o palco, corri meu olhar por todo o ambiente como que tentando capturar na memória cada detalhe de tamanha beleza. Dos lustres ao carpete, tudo me encantou tanto que os olhos ficaram rasos d'água. Me controlei, mas não há como negar o tamanho da emoção que senti. Era tudo lindo demais.
Depois daquele dia passei a ter uma relação cada vez mais "próxima" com o Theatro. Assisti apresentações, fiz trabalho acadêmico sobre ele e tornei-me frequentadora assídua das comemorações de aniversário seguintes, sempre sonhando com o centenário e me preparando para este dia.
Enfim 14/07/2009 chegou e eu tive que me contentar com um centenário diferente do sonhado. Casa fechada por causa da reforma que ainda não tinha sido concluída e comemoração na rua. Uma pena! A vantagem foi dar mais acesso ao público que lotou a Cinelândia, mas não caberia dentro do Theatro. E eu, que agora já trabalhava, só pude chegar na última apresentação, a qual, como não sou VIP, tive que assistir em pé, sem poder entrar na platéia montada na praça, pois a última apresentação era apenas para convidados. Conseguir um programa da apresentação parecia difícil, mas não foi. Infelizmente boa parte das pessoas que estavam lá dentro não valorizou o material e deixou jogado por todos os cantos.
Passados alguns meses do centenário, mais precisamente ontem (27/05/2010), o Theatro teve novo momento marcante: sua reabertura. Com a conclusão atrasada das obras de reforma e restauro este momento que deveria ter acontecido naquela data, com uma celebração mais que grandiosa, foi reduzido a matérias na imprensa e apresentação exclusiva para convidados. A alegria de ver imagens do Theatro restaurado, dos douramentos, das descobertas que estavam escondidas embaixo de camadas e mais camadas de tinta, se mistura à tristeza de não ter podido participar da festa, de ver apenas por fotos e vídeos o que aconteceu lá, de notar que uma parte da reforma (que não tem sido noticiada) descaracterizou certos espaços, de me sentir novamente distanciada de uma casa que me habituei a chamar carinhosamente de "Meu Theatro".
O que me consola diante disso é saber que posso continuar amando-o do mesmo jeito, sentir que mais cedo ou mais tarde hei de pisar naquela platéia novamente (tomara que seja mais cedo, o quanto antes), ter a certeza que os corpos artísticos continuam trabalhando firme e os funcionários em geral (que ficam atrás das cortinas e fazem tudo, mas ninguém vê) também.
Desejo ao meu Theatro Municipal do Rio de Janeiro muitos e muitos 100 anos mais. Que seu público e seus administradores saibam amar e cuidar dele como merece, ou seja, com zêlo, carinho e dedicação. E que, desta forma, ele possa voltar de fato ao povo, sem o qual espetáculo nenhum que se realize lá tem sentido.
Foto: Fernando Souza
Para encerrar esse post gigante (se é que alguém teve paciência de chegar até aqui) queria partilhar uma outra lembrança feliz. Ao vasculhar a memória para escrever esse post, recordei-me que naquele meu 1º dia no Municipal tive a alegria de ver Ana Botafogo no palco e na saída do Theatro. Ela me encantou tanto com sua doçura ao receber um grupo de crianças lá atrás, que na época escrevi uma carta contando aquele dia e tudo mais. Imaginem qual não foi minha surpresa quando, passado algum tempo do envio, chega em minha casa uma resposta escrita por ela. É... Bateu uma saudaaaade agora! Da cartinha, daquele tempo que eu tinha mais tempo... Assim que chegar no Rio vou correndo pegar p/ ler novamente e viajar no tempo. Quem sabe não escrevo para ela outra vez?