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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Dentro


Rola confusa pelo chão, como quem se impõe uma roupa que não lhe cabe, um lugar que não é seu. Os pés, completamente perdidos e descompassados, não encontram rumo. Um grito interno, angustiado e sem sentido brada alto, mas não chega a ninguém.

Não há quem ouça, mesmo que todos estejam em volta. É dentro. É contido. E explode no silêncio de um choro escondido, que ninguém vê. Porque, de fato, não cabe a ninguém. Só ao íntimo de um ser, de uma criatura em processo de autodescoberta, que olha para os lados a procura de si mesma e descobre que não é fora que vai encontrar as respostas. Não é ao lado e sim adentro.

Difícil luta consigo, trava sem cessar. Mas é preciso! Como uma borboleta que rompe o casulo para voar. O esforço é grande. Porém, sem ele, as asas não ficam prontas para alçar voo.

É preciso cavar, ir mais fundo, ir onde quase não se vai.

Aprender a fazer esse caminho mais vezes significa desafiar-se, colocar-se diante daquilo que incomoda ou abrir os olhos da alma para o que ficou encoberto por muito tempo. Sua angústia não tem nome nem aparência. É "apenas" um incômodo, um desassossego. Deseja acabar logo com tudo. De uma vez.

Acabar? Não! Não pode! É fundamental passar por isso para os passos acharem o rumo e o compasso. A borboleta não se lançará com suas asas coloridas no jardim enquanto não romper esse invólucro apertado. Aliás, nem terá asas coloridas de verdade se não fizer isso.

É doloroso! É difícil! Mas é assim o caminho, sem o qual nada poderá ser realmente belo e verdadeiro.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Tempestade


Era uma vez... Um final de semana repleto de mudanças climáticas. Não apenas na cidade de todos, mas também numa certa cidade interior.

Tudo começou com uma garoa tranquila que caiu sobre a terra no começo do sábado, mas não fez grande efeito no primeiro momento. A terra estava seca o bastante para dificultar a penetração da água. Mesmo assim, molhou. Foi o começo. Aos poucos a chuva engrossou e a água foi irrigando a terra. Sopraram ventos impetuosos que trouxeram frescor. Um frescor repleto de expectativas, sonhos e desafios. No final do dia, a terra estava tão molhada que, até onde não se esperava, era capaz de encontrar nutrientes.

As gotas caídas reverberavam ao som de "E eu vi que eu podia mais do que eu sabia. Eu vi a vida se abrir pra mim quando eu disse sim", elas golpeavam e revolviam a terra com "Sempre. Eu me disfarço, sempre. E não me encontro. Nem sei qual a cor da dor de ser mais um rosto que mente", mas também eram alertas para "Ser livre pra mostrar que o céu é logo ali. Ser livre, ser o que sonhou".


No domingo veio mais chuva. Agora com gotas suaves e determinadas, recheadas de outras notas musicais. Chuva branda, que refresca sem causar dano. Como aquelas de verão que fazem a gente correr para fora e deixar os pingos tocarem o rosto. E o dia terminou com uma brisa leve de reflexões plantadas no encontro mais belo, sublime e profundo.

Na segunda-feira todas as chuvas e ventos se reuniram e deram início a uma grande tempestade. A terra sentia falta das gotas que tinha recebido nos dias anteriores. Os ventos tiraram tudo do lugar com força. A água, agora, vinha pesada e veloz. Se espalhava por todos os lados. Sem dó. Foi o caos! A terra sentiu muito.


Mas, algumas vezes, é preciso passar pelo caos para depois chegar à ordem. Ainda que seja difícil e tempestuoso, quando tudo sai do lugar surge a necessidade rearrumar e a oportunidade de dar novos lugares a coisas antigas e lugares antigos a coisas novas. Tudo pode ser revisto e reajustado. Assim a terra sentirá melhor a brisa e as gotas suaves que estão por vir.

E além do mais, os raios de sol continuam lá, ainda que por trás das nuvens. Sempre lá! Tocando a terra, até quando não se pode ver, e iluminando-a delicadamente.




Bem, que venha mais chuva!

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Casa

Igreja de São José - Centro - RJ

Caminhava apressada pelo centro do Rio quando tive que parar, esperando o sinal, para atravessar a Av. 1º de março. Na verdade, ali ela ainda se chama Presidente Antônio Carlos. Bem na minha frente, a Igreja de São José. Tantas vezes estive lá dentro. Mas nunca tinha parado para contemplar sua fachada. Olhei para o alto. Rapidamente tentei capturar os detalhes. Os sinos, as cruzes, os símbolos tão significativos e tão caros para nós, católicos.

Nesse momento senti um sossego no coração e aquele amor ardente pela minha Igreja. Sim! Bendita unidade! Lembrei que não importa onde eu esteja, para onde eu vá. Em qualquer Cidade, Estado ou País que tenha uma Igreja Católica, eu terei casa. Ainda que as pessoas nesses lugares não me acolham, ou mesmo q as portas estejam fechadas, uma coisa não muda: é casa minha.

E isso me trouxe paz.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

No jardim...


Já faz um bom tempo que não passo aqui. Vida corrida. Não vinha sobrando tempo. E, honestamente, quase esqueci desse meu cantinho.

Mas hoje duas coisas me trouxeram de volta. Uma saudade e um novo passo.

A saudade tem nome e se chama Ana do Bar Encontro. As recordações não vieram de forma... como dizer?... legais. Fui ao cemitério Jardim da Saudade hoje, para levar meu abraço a uma pessoa que se despedia de alguém especial. Antes mesmo de ir lembrei da vez anterior em que estive lá. Foi para me despedir da Ana. Ao entrar fui recordando de cada momento daquele dia, das pessoas, dos acontecimentos. Lembrei que não queria entrar na capela e quebrei a cara quando o corpo foi transladado para fora (porque haveria missa de corpo presente e tinha tanta gente lá que a capela não comportava). Lembrei de como foi bonito ver a beleza da amizade refletida nos olhares de tanta gente que parecia não querer acreditar no que acontecia. Lembrei que, naquele dia, pude contemplar o que significa marcar a vida de quem cruza o nosso caminho para sempre. E que é só isso que a gente leva quando se vai e deixa de verdade aos que ficam. Lembrei, por fim, que Deus foi muito bom comigo quando me permitiu conhecer uma pessoa tão especial, aprender tanto de forma tão simples e descobrir como a vida deve ser desejada, vivida e aproveitada.

Em pouco tempo fui muito marcada pela Ana, presenteada com ternas e engraçadas recordações, de alguém que me mostrou com a própria vida como faz diferença crer e confiar em Deus. Foi uma grande honra conhecê-la e uma alegria tremenda cada minuto que passei perto dela. Sua imagem sempre vem à minha mente quando vejo corujas no morro da Matriz, quando pego um jacaré na praia de Saquarema ou quando falo sobre uma casa cheia e muitos colchonetes no chão.

Com o exemplo de vida da Ana e todas essas lembranças retornei ao trabalho e precisava decidir dar um passo meio diferente. Pensei mais um pouco, avaliei e, mesmo com um pouco de insegurança, decidi dar asas ao meu coração e me jogar.

Queria fazer um "curso" que seria diferente de tudo que já fiz. Relutei comigo mesma. Minha racionalidade disse não, ponderou tempo, outros compromissos etc, mas meu desejo não diminuiu. Pelo contrário, cresceu (mesmo que acompanhado de certo medinho. rs) após uma conversa com alguém que já fez e muito me incentivou. Decidi me lançar. Escolhi não cortar minhas asas dessa vez. Vou voar!

Ao preencher a inscrição me deparei com o campo "site/blog" que não era de preenchimento obrigatório. Aí lembrei desse meu cantinho aqui e dos outros cantinhos que tenho no blogger (Bora viajar, povo! e Vitrola e mais). Fazia muito tempo... Vim olhar e bateu vontade de retomar. Mais um recomeço? Só o tempo vai dizer...