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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Dentro


Rola confusa pelo chão, como quem se impõe uma roupa que não lhe cabe, um lugar que não é seu. Os pés, completamente perdidos e descompassados, não encontram rumo. Um grito interno, angustiado e sem sentido brada alto, mas não chega a ninguém.

Não há quem ouça, mesmo que todos estejam em volta. É dentro. É contido. E explode no silêncio de um choro escondido, que ninguém vê. Porque, de fato, não cabe a ninguém. Só ao íntimo de um ser, de uma criatura em processo de autodescoberta, que olha para os lados a procura de si mesma e descobre que não é fora que vai encontrar as respostas. Não é ao lado e sim adentro.

Difícil luta consigo, trava sem cessar. Mas é preciso! Como uma borboleta que rompe o casulo para voar. O esforço é grande. Porém, sem ele, as asas não ficam prontas para alçar voo.

É preciso cavar, ir mais fundo, ir onde quase não se vai.

Aprender a fazer esse caminho mais vezes significa desafiar-se, colocar-se diante daquilo que incomoda ou abrir os olhos da alma para o que ficou encoberto por muito tempo. Sua angústia não tem nome nem aparência. É "apenas" um incômodo, um desassossego. Deseja acabar logo com tudo. De uma vez.

Acabar? Não! Não pode! É fundamental passar por isso para os passos acharem o rumo e o compasso. A borboleta não se lançará com suas asas coloridas no jardim enquanto não romper esse invólucro apertado. Aliás, nem terá asas coloridas de verdade se não fizer isso.

É doloroso! É difícil! Mas é assim o caminho, sem o qual nada poderá ser realmente belo e verdadeiro.