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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Nada como o som do mar! 🌊


Estava atrasada, mas resolveu que não ia correr. Desceu cada degrau contando os segundos para dobrar a esquina e sentir o cheiro de mar. Continuou caminhando, passos contidos apesar da ansiedade por vê-lo.

Ah o mar! Tamanha imensidão sempre faz seu coração voar. Voar? Talvez aqui a palavra certa seja navegar. E não importa o tamanho das dificuldades, das dores, dos problemas. Quando ela escuta o bater das ondas, tudo se transforma. Aquele som tem um poder inexplicável. Parece que ele coloca as coisas no lugar.

Chegou no calçadão e o observou rapidamente. As ondas quebravam com mais força do que o costume. E o som era mais alto. Nem o barulho dos carros conseguia se sobrepor a ele. Isso deixou-a profundamente feliz.

Olhou o relógio. O tempo corria. Implacável. Pensou em acelerar os passos. E lembrou-se que vive com pressa. Passou, então, a refletir sobre o bater das ondas e o que realmente importa. De que adiantaria correr? Por que tanta pressa para tudo sempre?

Ouviu uma voz. Era um homem que falava para o seu cachorro "Devagar! Sem pressa! Para que correr?". Tremeu por dentro. Parecia que era com ela. E ele continuou, soltou a guia da coleira e disse "Quer correr? Corre, vai lá. Está solto.", mas o animalzinho não deu um passo. Ficou parado, olhando para o homem.

Ela tremeu por dentro novamente. O som do mar já estava distante, por causa da enorme faixa de areia. Mas havia outro som agora. Mais forte e desconcertante. Seu interior gritava.

Identificou-se com o cãozinho. Sempre apressada. Sempre querendo imprimir o ritmo dos passos. Mas, ao mesmo tempo, frágil ao ponto de paralisar se não tiver a segurança dAquele que guia, que conduz. O mesmo que volta e meia "pede um pouco mais de calma... um pouco mais de paciência".

A dupla seguiu seu rumo. Passos calmos, coleira na guia. Cão e homem caminhando juntos e tranquilos. Era essa a reflexão e a lição que o mar veio trazer.

Ela também seguiu seu rumo, chegou ao seu destino, cumpriu com suas responsabilidades, mas não deixou de guardar na memória aquela lição. E colocou num lugar muito especial: juntinho com o som do mar. 😉

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Era uma vez...

A história que conto hoje é cheia de sorrisos e olhares sinceros, bem querer e cuidado, presenças e pertenças.

Havia, em algum lugar, um céu estrelado. E, entre as estrelas, brilhava uma lua. Às vezes era redonda, grande, luminosa. Outras vezes minguava tanto que mal se podia ver.

Numa noite de céu claro, quando a lua menos esperava, veio ao seu encontro uma águia.


Ela voava livre pelos céus e se tornou amiga da lua. As duas não se cansavam de conversar e passavam noites inteiras fazendo companhia uma para a outra. Enquanto estavam distantes, a lua girando em torno da Terra e a águia sobrevoando as águas e montanhas, contavam os segundos para se reencontrarem e falarem sobre tudo que tinham visto quando não estavam juntas.


Sem se saber muito bem como, numa ocasião, as amigas conversavam alegres quando, discretamente, aproximou-se uma delicada borboleta. Ambas ficaram encantadas ao verem suas coloridas asas tão de perto. Não demorou muito para começarem a conversar com ela. E as noites continuaram a ser tomadas por encontros repletos de saudade, alegria e muitas histórias. Mas agora eram as três amigas que se reuniam nesses momentos festivos.


Quando a lua estava minguante e quase sem brilho, a águia e a borboleta não a abandonavam. Pelo contrário, permaneciam com ela até que ficasse nova e luminosa.


Quando a águia se cansava de voar era a vez da lua e da borboleta estimularem a amiga. Elas falavam do prazer de cortar os céus, mesmo sem saberem como era a sensação. Porque sabiam como a águia gostava daquilo, de tanto que falava.


E se a borboleta se sentisse pequena e frágil, a lua se unia à águia para mostrar como ela era forte e determinada, como suas cores eram belas e quão encantadora era sua leveza.


Os dias se passavam alegres a cada encontro. E viu-se na Terra que as pessoas se preparavam para alguma festa. Estavam todos felizes e animados. A lua ouviu dizer que era um tal de Carnaval e que as pessoas se divertiam muito nesses dias. Soube também que elas viajavam para lugares diferentes e propôs o mesmo a suas amigas.


Decidiram que o destino seria um lugar de praia e foram. A lua já conhecia o mar. Passava sempre por lá, levando a noite. Mas a águia e a borboleta nunca tinham deixado a região onde viviam, sempre viveram entre as montanhas e os lagos.


As três passaram dias memoráveis naquela paisagem. A águia ficou encantada com a brisa marinha e o bater das ondas. A borboleta nunca tinha visto areia tão clara e matizes tão diferentes de azul e verde. Respirava-se um frescor único.


Cada noite foi ainda mais especial do que todas as outras. Elas conversaram sobre seus sonhos, desejos, dificuldades, medos e tudo mais que pudesse se tornar assunto. Se ajudavam muito o tempo todo, pois cada uma tinha um olhar diferente e experiências distintas, que proporcionavam formas novas de ver as coisas, de encontrar soluções para os problemas, ou mesmo de achar graça onde a outra não conseguia.


A lua pairava clara no céu e se divertia com suas amigas, quando viram uma pessoa aproximar-se da costa. Era um homem. Prestaram atenção e perceberam que havia uma coroa em sua cabeça. Seria um príncipe? Talvez um rei? Continuaram a olhar. Estava um tanto entristecido. Parecia solitário.

Depois de muito debaterem decidiram ir até ele. Descobriram que era um rei e que estava destinado a reinar solitário para sempre. Ele falou das responsabilidades do seu reinado, de como algumas coisas eram difíceis e do desafio de seu dever não ter fim.


Ali nasceu mais uma vez a semente da amizade. O rei deixou de ser só. Ainda que reinasse sozinho, e embora tenha precisado voltar para o seu palácio, sabia que, ao olhar para o céu, veria sua amiga lua. De vez em quando, a águia voava até a janela da biblioteca do palácio e o rei deixava de se sentir só. A borboleta passava temporadas inteiras no enorme jardim que embelezava o entorno daquela linda construção medieval, fazendo companhia ao rei sempre que ele quisesse se distrair com as cores e aromas das flores. E, de vez em quando, todos viajavam juntos para onde a lua avisasse que ficaria mais redonda e iluminada.


Juntos eles viram eclipses, noites de céu estrelado, luzes refletidas em lagos e mares. Os quatro bons amigos provaram ao mundo que as sementes plantadas com amor frutificam em abundância, que quem tem amigos nunca está só e que não importam as distâncias nem as diferenças.


Se abrimos o coração vemos como podemos ir muito além do que jamais imaginamos. Chegar até a lua, voar como uma águia, ter a beleza da borboleta e reinar em nossas vidas como verdadeiros reis. Vale o esforço!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Escolhas

Afinal, o que se leva dessa vida?
Algumas vezes me pego pensando se faço as escolhas certas, se tenho sido negligente quando devia ser responsável. Depois de refletir bastante concluí que, apesar da aflição que posso sentir, alguns riscos valem a pena.

Nossa vida é composta de momentos únicos, que nos escapam bem de pressa se não estivermos atentos. Será que vale a pena deixar que se vão sem termos aproveitado com intensidade?

Bem... Ultimamente tenho escolhido viver. Posso me atrapalhar com prazos que precisam ser cumpridos, mas estou cada vez mais convencida de que vale a pena. Afinal, não tem volta. Temos apenas uma oportunidade de viver cada experiência que vivemos. E não quero me arrepender de não ter vivido.
 
- Ver três filmes seguidos num domingo chuvoso; 
- Dormir tarde e acordar cedo para aproveitar ao máximo cada segundo das presenças ao redor;
- Fazer pipocas sabendo que vai tomar sorvete, porque alguém quer muito comê-las;
- Aguardar ansiosamente pelo fim do expediente e, no caminho, saber que vai ter um delicioso cafezinho te esperando em casa;
- Chegar e encontrar uma mesa semi-posta, com garrafa térmica e tudo;
- Gastar 52 reais para ganhar os melhores abraços e passar uns dias com quem te ama mais do que tudo;
- Ver os olhos grandes de um animalzinho de quatro patas que, se pudesse, falava;
- Caminhar na chuva a procura de um vestido para testemunhar a realização do sonho de alguém especial;
- Continuar na chuva e ir a um lugar desconhecido para ver e tocar o milagre da vida em dose dupla;
- Se permitir jogar tudo para o alto e colocar os pés na areia, sentindo a brisa do mar no rosto e ouvindo mais o bater das ondas do que os motores dos carros;
- Viver, viver e viver.

Esta lista pode ser interminável. Depende do que se escolhe.

Hoje tenho alguns receios, compromissos, demandas. Mas procuro lembrar que meu maior compromisso deve ser com a minha felicidade e a felicidade de quem amo. A demanda mais importante é viver bem cada momento, sem deixar escapar um segundo sequer.

Tudo bem que não dá para "curtir a vida" o tempo todo. Isso é fato! Contudo, sempre é possível aproveitar o tempo que se tem (e dar um jeito de criar tempo, quando não se tem. rs), ver o sol se pôr, observar uma criança brincando na areia ou um barco deslizando no mar. Ah a leveza! Faz tanta falta nos dias frenéticos que vivemos atualmente.

E o que se leva da vida? Aquilo que realmente foi vivido, com intensidade, por mais simples que fosse. =)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Dentro


Rola confusa pelo chão, como quem se impõe uma roupa que não lhe cabe, um lugar que não é seu. Os pés, completamente perdidos e descompassados, não encontram rumo. Um grito interno, angustiado e sem sentido brada alto, mas não chega a ninguém.

Não há quem ouça, mesmo que todos estejam em volta. É dentro. É contido. E explode no silêncio de um choro escondido, que ninguém vê. Porque, de fato, não cabe a ninguém. Só ao íntimo de um ser, de uma criatura em processo de autodescoberta, que olha para os lados a procura de si mesma e descobre que não é fora que vai encontrar as respostas. Não é ao lado e sim adentro.

Difícil luta consigo, trava sem cessar. Mas é preciso! Como uma borboleta que rompe o casulo para voar. O esforço é grande. Porém, sem ele, as asas não ficam prontas para alçar voo.

É preciso cavar, ir mais fundo, ir onde quase não se vai.

Aprender a fazer esse caminho mais vezes significa desafiar-se, colocar-se diante daquilo que incomoda ou abrir os olhos da alma para o que ficou encoberto por muito tempo. Sua angústia não tem nome nem aparência. É "apenas" um incômodo, um desassossego. Deseja acabar logo com tudo. De uma vez.

Acabar? Não! Não pode! É fundamental passar por isso para os passos acharem o rumo e o compasso. A borboleta não se lançará com suas asas coloridas no jardim enquanto não romper esse invólucro apertado. Aliás, nem terá asas coloridas de verdade se não fizer isso.

É doloroso! É difícil! Mas é assim o caminho, sem o qual nada poderá ser realmente belo e verdadeiro.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Tempestade


Era uma vez... Um final de semana repleto de mudanças climáticas. Não apenas na cidade de todos, mas também numa certa cidade interior.

Tudo começou com uma garoa tranquila que caiu sobre a terra no começo do sábado, mas não fez grande efeito no primeiro momento. A terra estava seca o bastante para dificultar a penetração da água. Mesmo assim, molhou. Foi o começo. Aos poucos a chuva engrossou e a água foi irrigando a terra. Sopraram ventos impetuosos que trouxeram frescor. Um frescor repleto de expectativas, sonhos e desafios. No final do dia, a terra estava tão molhada que, até onde não se esperava, era capaz de encontrar nutrientes.

As gotas caídas reverberavam ao som de "E eu vi que eu podia mais do que eu sabia. Eu vi a vida se abrir pra mim quando eu disse sim", elas golpeavam e revolviam a terra com "Sempre. Eu me disfarço, sempre. E não me encontro. Nem sei qual a cor da dor de ser mais um rosto que mente", mas também eram alertas para "Ser livre pra mostrar que o céu é logo ali. Ser livre, ser o que sonhou".


No domingo veio mais chuva. Agora com gotas suaves e determinadas, recheadas de outras notas musicais. Chuva branda, que refresca sem causar dano. Como aquelas de verão que fazem a gente correr para fora e deixar os pingos tocarem o rosto. E o dia terminou com uma brisa leve de reflexões plantadas no encontro mais belo, sublime e profundo.

Na segunda-feira todas as chuvas e ventos se reuniram e deram início a uma grande tempestade. A terra sentia falta das gotas que tinha recebido nos dias anteriores. Os ventos tiraram tudo do lugar com força. A água, agora, vinha pesada e veloz. Se espalhava por todos os lados. Sem dó. Foi o caos! A terra sentiu muito.


Mas, algumas vezes, é preciso passar pelo caos para depois chegar à ordem. Ainda que seja difícil e tempestuoso, quando tudo sai do lugar surge a necessidade rearrumar e a oportunidade de dar novos lugares a coisas antigas e lugares antigos a coisas novas. Tudo pode ser revisto e reajustado. Assim a terra sentirá melhor a brisa e as gotas suaves que estão por vir.

E além do mais, os raios de sol continuam lá, ainda que por trás das nuvens. Sempre lá! Tocando a terra, até quando não se pode ver, e iluminando-a delicadamente.




Bem, que venha mais chuva!